Adelino foi internado no CHPB/FHEMIG em 25/04/69, segundo ele, porque “um cachorro bravo me mordeu”!
Nilta Pires Chaves foi internada no CHPB na data de 30/03/76 e não sabe a razão de sua hospitalização.
O namoro começou dentro do hospital: “A Nilta gostava de mim, lavava minha roupa, ficava perto de mim... Eu também gostava dela, coitada, tinha pena dela. Saía comprava coisas gostosas para ela, roupas também. Ela ouvia o que eu dizia”.
Ainda dentro do hospital Adelino conseguiu fazer dinheiro vendendo rapé, ganhando pequenas quantias, acumulando, por fim, um montante razoável. Começou, então, a emprestar dinheiro a juros para os funcionários. Já com um “pé de meia”, abre uma poupança e solicita colocar a sua Nilta como segunda titular.
Adelino tinha muito medo de sair do hospital, de ficar abandonado, de ter que trabalhar e arrumar a casa: “Isso é coisa de mulher, aqui eu tenho quem faça as coisas para mim”.
Mas, ao encontrar os antigos companheiros que haviam saído da internação “bem de vida”, resolve sair também. Adelino é desospitalizado em 21 de janeiro de 2004 e passa a ser morador de Residência Terapêutica.
Nessa época, Adelino e Nilta namoravam há quatro anos, mas Adelino não permitiu que Nilta saísse do hospital quando ela teve uma primeira oportunidade. Dessa forma, sua namorada permanece internada, as visitas de Adelino são diárias e o namoro continua. No entanto, após seis meses, a demanda para que Nilta saísse do hospital passa a ser de ambos e, finalmente, em julho de 2004, Nilta se torna também uma moradora de Residência Terapêutica.
As visitas, agora nas residências, continuam freqüentes. O desejo de estar juntos e construir uma vida a dois começa a ser discutido entre o casal e é levado para seus técnicos de referência. Adelino e Nilta querem se casar. Começam a se preparar para assumir responsabilidades, a cuidar um do outro e administrar a casa. Adelino, como homem da casa, começa a conhecer a realidade financeira de um lar: compras, aluguel, contas de água, luz, telefone, padaria, açougue... Contas que não existiam em sua vida. Começa a se preocupar seriamente com a nova realidade. Nas várias conversas a respeito com pessoas de sua confiança, manifestou receios a ponto de querer desistir do casamento, acreditando que não daria conta das novas responsabilidades. Mas o amor, o desejo de estar com Nilta era muito maior! Aprendeu a cozinhar, lavar, passar, arrumar a casa... Estava interessado em aprender tudo!
Nilta, por sua vez, também aprendia a cuidar de uma casa, pronta para assumir com seu futuro esposo as despesas do lar! Ela jamais teve dúvidas sobre seus sentimentos e em nenhum momento pensou em desistir do casamento. Quando se sentiram seguros, informaram que estavam prontos.
Conversas com o padre, curso de noivos, alianças, os móveis da casa, onde morariam, convite, terno, vestido da noiva, o chá de panela... a festa!!! Foram meses de intensa satisfação, preocupação, ansiedade e correria!
Adelino queria muito uma camisa azul, como as dos motoristas de ônibus, e lá se vão todos em busca da tão desejada camisa! Foram para as escolas de seus bairros aprender a assinar seus nomes, pois não queriam suas digitais em um papel tão importante. Queriam estar bem e por isso fizeram próteses dentárias.
Enfim o grande dia: presentes chegando, festa organizada, damas de honra, padrinhos, músicas da igreja escolhidas, carros para os noivos... lua de mel!
No dia 02 de dezembro de 2005, na Paróquia do Bom Pastor, o Padre Ronaldo realizou a cerimônia de casamento de Adelino e Nilta.
Adelino e Nilta estão casados há mais de um ano, com pequenas queixas matrimonias, levando uma vida social normal. Uma família que programa suas despesas, faz planos, recebe e visita amigos e vizinhos e gosta de viajar (principalmente para Aparecida do Norte). Eles freqüentam a igreja e a escola do bairro, têm contas em supermercado, padaria, açougue e lojas da cidade: “Graças a Deus temos crédito nas lojas. Sou bom pagador e muito honesto.Quando a Nilta adoeceu fizemos uma promessa e cumprimos. Ela não teve que operar, aí a gente foi nos Vicentinos, escolheu uma família pobre e durante três meses demos cesta básica. Quando ela adoeceu, eu arrumava a casa, fazia tudo para ela ficar quietinha, repousando, como o médico falou. Só saía para fazer fisioterapia. Pagava táxi. Coitadinha, ficou ruim, mas agora está tudo bem”.